ARTIGO:
UMA ANALISE COGNITIVA NA EJA
Ailton Barcelos da Costa
Aluno de Matemática/ UFSCar
ALOJAMENTO
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
VIA.
WASHINGTON LUIZ, KM 235
MODULO
I, BLOCO D
CEP:
13565-905 SÃO CARLOS-SP
E-mail:
ailton_barcelos@yahoo.com.br
Tel.
Cel.: 16 8164-2815
Resumo:
O texto trata da dificuldade de aprendizagem dos alunos na
Educação de Jovens e Adultos - EJA, sob o ponto de vista cognitivo,
da teoria de Piaget.
Inicia-se as noções sobre conhecimento e considerações sobre o
estagio de desenvolvimento cognitivo, seguindo para uma analise sobre
o nível de operatoriedade dos alunos da EJA.
Palavras-chave: Piaget; Ensino de Jovens e
Adultos; Nível de Operatoriedade.
- Introdução
Para Piaget (1973), “Não é o conhecimento do teorema de
Pitágoras que irá assegurar o livre exercício da inteligência
pessoal: é o fato de haver redescoberto a sua existência e a sua
demonstração”.
Primeiramente deve-se começar a discussão sobre o que é aprender,
e como se aprende, e para isso vamos usar alguns conceitos de Piaget
relativos ao processo de desenvolvimento, tentando mostrar que a
aprendizagem está ligada a esses processos.
Pode-se do inicio dizer que, segundo Ortiz (2002), não se aprende
da mesma maneira em todas as idades, pois a capacidade de construção
de novos conhecimentos é determinada pelas estruturas de pensamento
que o sujeito possui antes de tentar assimilar ou compreender o novo
objeto.
A teoria de Piaget só será útil em sala de aula se os professores
passem a questionar-se como modificar o ambiente escolar.
Assim, o objetivo da educação é formar pessoas capazes de
desenvolver um pensamento autônomo, e dentre desse conceito temos
que entender a dinâmica da sala de EJA, para construção de não só
estudos científicos, mas também relações interpessoais.
Então, a primeira tarefa da educação consiste em garantir a todo
indivíduo a oportunidade de construir os instrumentos psicológicos
que lhe permitam raciocinar com lógica, conquistar a autonomia e
tornar-se um cidadão capaz de contribuir para as transformações
sociais e culturais da sociedade, dentre outras.
- Noções sobre conhecimento
Estudando os processos pelos quais a criança adquire o
conhecimento, Piaget chega às relações entre desenvolvimento e
aprendizagem, que são processos diferentes, ou seja, o
desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo, ligado ao
desenvolvimento do sistema nervoso e das funções mentais,
terminando somente na vida adulta. Já a aprendizagem é diferente,
pois ela é provocada por situações, além de contrária ao que é
espontâneo, é um processo limitado a um problema simples ou uma
estrutura simples.
Assim, o desenvolvimento explica que a aprendizagem é um processo
essencial e cada elemento dela ocorre como função do
desenvolvimento total, e não se chega a apreender da mesma maneira
em todas as idades, pois a capacidade de formação de conhecimentos
novos é determinada pelo estágio de desenvolvimento do sujeito.
Piaget considera que o desenvolvimento de cada pessoa passa por
várias fases, consideradas como estágios: sensório-motor,
pré-operatório, operacional concreto e operacional formal.
A passagem pelos estágios não pré-programados vai depender dos
seguintes fatores: maturação interna, ações sobre os objetos,
interação social e equilibração.
Então, dentro de uma perspectiva mais funcional de como o sujeito
atua cada estágio se caracteriza por uma maneira de abordar os
problemas e de enfrentar a realidade.
A busca pela adaptação ao meio em que vive é inerente ao sujeito,
e esta adaptação se realiza através da ação, a qual é um
elemento central da teoria, sendo responsável pela interação do
sujeito-objeto.
Considerações sobre os estagio de desenvolvimento
Segundo Piaget, cada estágio caracteriza-se por uma estrutura de
conjunto, a qual se expressa de maneira lógico-matemática e traduz
a organização subjacente das ações (Delval, 2001).
Segundo, Ortiz (2002), os estágios obedecem a uma ordem seqüencial
invariável, e o que pode sofrer alterações é a velocidade e a
duração das construções, as quais dependem da estimulação do
meio em que o sujeito está inserido. Também é preciso levar em
conta características dos estágios; a conservação das aquisições
anteriores. Uma vez construída uma estrutura, não há possibilidade
de o sujeito esquecer o conhecimento resultante dessa construção.
As estruturas mantêm-se e dão forma a todos os conteúdos, de tal
modo que o sujeito de um determinado estágio, que adquire um
conhecimento; irá adquiri-lo, apoiando-se nas estruturas que possui,
ou seja, em seus conhecimentos anteriores e em uma determinada
maneira de abordar os problemas.
Os estágios são universais, independentes da raça, cultura ou
nível socioeconômico, passando todos pela mesma seqüência na
construção das estruturas cognitivas.
Piaget definiu o desenvolvimento cognitivo como um crescimento
intelectual no qual podem distinguir-se quatro grandes estágios:
• Estágio da inteligência motora (0-2 anos) – O
comportamento é basicamente motor, a criança ainda não faz
representações, e é anterior ao aparecimento da linguagem, sendo
marcado por um extraordinário desenvolvimento da linguagem.
• Estágio do pensamento pré-operacional (2-7 anos) –
caracterizado pelo surgimento da linguagem e outras formas de
representação. O sujeito se torna apto a representar, e é uma
conquista do estágio pré-operatório. As representações pela
ordem de aparecimento são: a imitação, o jogo simbólico, o
desenho, a imagem mental e a linguagem. Nessa fase, o sujeito não
admite a existência de pontos de vista diferentes dos dele, é o
egoísmo. A superação do egocentrismo permite ao sujeito descentrar
mais e acompanhar transformações simples, o que, por sua vez,
possibilita a construção da reversibilidade.
• Estágio das operações concretas (7-11 anos) –
desenvolvimento do pensamento lógico para problemas concretos. Nesse
estágio, ele não apresenta dificuldades na solução de problemas
de conservação e tem argumentos corretos para suas respostas. Já
se torna capaz de realizar todas as operações cognitivas e, o que é
mais importante, já alcança a reversibilidade das operações
mentais. Do ponto de vista cognitivo, o desenvolvimento mais
importante, que ocorre no estágio das operações concretas, é a
construção das operações lógicas,
• Estágio das operações formais (11-15 anos) –
desenvolvimento do raciocínio lógico para todas as classes de
problemas. Esse estágio é caracterizado pelo raciocínio científico
e pela construção de hipóteses as quais refletem uma compreensão
altamente desenvolvida da causalidade. O sujeito pode operar com a
lógica de um argumento, independente do conteúdo.
- Diagnóstico da EJA
Segundo Ortiz (2002), todos os adultos, quando se integram a
programas de educação básica, têm uma idéia do que seja a
escola, apesar de um passado e uma experiência desastrosa. Lembra-se
da escola com carinho e sentem, com pesar, o fato de terem-na
abandonado, ou de nunca terem tido a chance de freqüentá-la.
Não se pode refletir sobre a Educação de Jovens e Adultos sem
relacioná-la diretamente à forma desigual como a sociedade está
estruturada.
Os cursos de alfabetização de adultos existem, exatamente, pela
falta objetiva de oportunidades educacionais que garantam às
crianças o acesso à escola, bem como à sua permanência, haja
vista os altos índices de evasão escolar.
As dificuldades sociais, vivenciadas por parte dos alunos,
afastam-nos da escola, pois não a encontram voltada a sua realidade
e; sem expectativa de progressão social, intelectual e cultural,
abandonam os estudos.
As recriminações, a exclusão, os ataques à auto-estima e o
desrespeito vivido dentro do sistema escolar também são freqüentes
responsáveis por esse fracasso.
Aqueles, que já passaram pela escola, são portadores de uma
história escolar marcada pelo fracasso, por incompetência da escola
em não saber atender à necessidade do aluno.
Sendo assim, a falta de conhecimento do professor da EJA de como o
sujeito constrói seu conhecimento também dificulta o conhecer dos
seus alunos e continua julgando o que desconhece.
- Desafios da EJA
A escola precisa trazer para dentro dela as situações próprias do
contexto cultural, mas, trazer, simplesmente, situações de vida
para a escola não garante a qualidade da educação. Logo, o ensino
deve adaptar-se às condições do progresso científico e preparar
inovações, tudo aquilo que é necessário à construção de uma
consciência crítica e moral.
A escola tem trabalhado, de forma básica, na transmissão de
conteúdos que, se forem tratados, simplesmente, como informações,
não levarão o aluno a operar sobre eles para chegar a uma
compreensão. Poderemos, então, dizer que a situação escolar, em
especial, se tratando de educação de adultos, é uma educação
tradicional.
Sob ponto de vista do desenvolvimento, a escola está despreparada
teórica e praticamente para enfrentar o problema da educação para
todos.
Há, nesse momento de busca, a necessidade de se olhar o presente
para se definir o futuro.
Todos sofrem a crise de paradigmas da educação; e em geral crise
exemplificada pelo fracasso da maioria dos programas de
alfabetização.
Podemos afirmar que crise, incerteza e fragmentação também
atravessam outros campos e determinam boa parte dos discursos atuais.
Diante de tantas dificuldades, a solução está num maior
desenvolvimento do sujeito e do próprio sistema educativo.
- Contribuições de Piaget e EJA
A contribuição de Piaget pode nos levar a compreender o que
ocorre, cognitivamente, para que haja aprendizagem na sala de aula,
pois a compreensão do processo de desenvolvimento, uma vez que este
não ocorre por simples maturação, mas devido às trocas do
indivíduo com o meio que o cerca.
O cotidiano e a vida familiar colocam, muitas vezes, com mais
propriedade que a própria escola, situações de desafio que exigem
do sujeito um rearranjo de suas estruturas cognitivas, propondo
condições, às vezes excelentes, para a produção de abstrações.
Assim, é essencial conhecer-se a vida de uma população, que
exigem o uso de um pensamento dedutivo, o aproveitamento dessas
situações, no espaço escolar, contribuirá para o desenvolvimento
de um pensamento operatório nos alunos, criando situações que
privilegiem processos de abstração reflexionante e, em especial, de
abstração refletida.
Embora entendendo que a solução para a realidade do aluno esteja
condicionada a questões que ultrapassam o muro da escola, é
necessário que a prática pedagógica contribua para que o aluno
encontre oportunidade de construir o raciocínio crítico, pois a
falta de um projeto pedagógico adequado à realidade da EJA vem
colaborar com a evasão e com a falta de compromisso da escola na
construção do saber dos alunos.
Assim, passando à teoria de Piaget, sabemos que ele considerou o
desenvolvimento cognitivo como tendo três componentes.
Conteúdo é o que se conhece, refere-se aos
comportamentos observáveis que refletem a atividade intelectual.
Pela sua natureza, o conteúdo da inteligência varia,
consideravelmente, de idade para idade e de sujeito para sujeito.
Função refere-se àquelas características da
atividade intelectual – assimilação e acomodação – que são
estáveis e contínua no decorrer do desenvolvimento cognitivo.
Estrutura refere-se às propriedades organizacionais
inferidas que explicam a ocorrência de determinados comportamentos.
Portanto, quando, na escola, pretende-se favorecer uma aprendizagem
com compreensão, que vai muito além da repetição de respostas
certas e que é fruto de uma atividade mental construída pelo aluno,
em que ele incorpora às suas estruturas cognitivas os significados
relativos ao novo conteúdo, é necessário levar em conta as
vivências e conhecimentos do aluno de EJA.
Para aprender qualquer conteúdo escolar, o aluno da EJA precisa
atribuir um sentido e construir significados para tal conteúdo. Para
que isso ocorra, o aluno não pode partir do nada, deve relacionar o
novo conteúdo com as idéias, conceitos, informações e
conhecimentos já construídos no decorrer de sua vida. A
possibilidade de estabelecer relações entre um conteúdo novo e os
conhecimentos prévios que o aluno já possui é que facilitará a
sua compreensão e desencadeará uma aprendizagem significativa.
Para que uma proposta de trabalho para a EJA tenha significado,
faz-se necessária uma investigação sobre em que nível operatório
os alunos estão, para que, a partir desses resultados, tal proposta
possa contribuir para a formação autônoma do sujeito.
Então, a questão é:
- Qual o nível de operatoriedade dos alunos da Educação de
Jovens e Adultos?
Tendo em vista que o nosso sistema educacional enfrenta uma crise, de
proporções cada vez maiores, parece-nos necessário salientar que a
evasão escolar aumenta a demanda do Ensino de Jovens e Adultos.
Considerando-se que a educação deve favorecer a aprendizagem
efetiva do aluno, torna-se necessário conhecer o nível de
operatoriedade do aluno da EJA, a fim de que ele encontre, na escola,
um ambiente propício para tornar-se um cidadão consciente.
Através do conhecimento do nível de operatoriedade, pode-se
construir uma proposta pedagógica que possibilite aos alunos
aprenderem a aprender, para desenvolverem suas capacidades e
habilidades, quando eles próprios possam, a partir de suas
vivências, reinventar e reconstruir o que já sabem.
Sendo assim, pesquisas sobre o nível operatório dos alunos da EJA,
os quais os resultados encontrados demonstram que o maior número de
sujeitos apresenta níveis mais elementares de operatoriedade.
Os sujeitos apresentam um pensamento de nível operatório elementar
das operações concretas, ligado ao contexto da experiência
pessoal.
Com essa dificuldade, pode-se concluir que o fracasso escolar não
fica determinado apenas no aspecto do desenvolvimento social, mas a
escola ainda tem um conjunto de questões e problemas a ser resolvido
para poder cumprir com a sua obrigação na formação do Homem, que
vai além dessa análise aqui apresentada.
- Mudanças na pratica pedagógica da EJA
Entre as mudanças, que Ortiz (2002), sugere na prática pedagógica
dos professores da EJA, destaco:
• a recuperação, por parte dos professores, do controle do
processo educativo, que será alcançado mediante a colaboração e
participação de todos, bem como da participação de projetos na
formação continuada;
• a colocação dos alunos da EJA perante todo tipo de
conhecimento, em contato com o saber, a experiência e a realidade;
• a escola deve estar inter-relacionada com toda a comunidade para
não criar exclusão e garantir a todos o direito à educação, à
liberdade e à felicidade;
• a necessidade de a escola da EJA transformar-se em uma
instituição que possua um sistema educativo democrático.
Todavia, os professores precisam de clareza para desenvolver uma
prática educativa, que venha a possibilitar a aprendizagem do aluno,
não se esquecendo de que cada pessoa pensa de maneira diferente,
usando métodos diferentes, estratégias e instrumentos conforme a
atividade que esteja realizando; não esquecendo que o caminho da
aprendizagem não tem uma única forma, que deve ser um processo
aberto, já que há limites e possibilidades de construção do
conhecimento de indivíduo para indivíduo.
Nesse sentido, diferenças individuais e diferenças culturais se
fundem, formando a heterogeneidade a partir dos indivíduos em
diferentes atividades, ao longo do processo de aprendizagem.
Finalmente, vemos que a contribuição da teoria piagetiana não se
restringe somente à ação pedagógica, mas também pode
constituir-se num referencial à análise de orientações de
diretrizes de Política Educacional para a Educação de Jovens e
Adulto.
BIBLIOGRAFIA
- DELVAL, Juan. Aprender na Vida e Aprender na Escola. Porto Alegre. Editora Artmed. 2001.
- Ortiz, Maria Fernanda Alves. Educação de Jovens e Adultos: Um estudo de nível operatório dos alunos. UNICAMP: Campinas, 2002. Dissertação de Mestrado.
- PIAGET, Jean. Para onde vai a Educação? Rio de Janeiro. Livraria José Olympio Editora. 1973.
ARTIGO:
UMA ANALISE COGNITIVA NA EJA
Ailton Barcelos da Costa
Aluno de Matemática/ UFSCar
ALOJAMENTO
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
VIA.
WASHINGTON LUIZ, KM 235
MODULO
I, BLOCO D
CEP:
13565-905 SÃO CARLOS-SP
E-mail:
ailton_barcelos@yahoo.com.br
Tel.
Cel.: 16 8164-2815
Resumo:
O texto trata da dificuldade de aprendizagem dos alunos na
Educação de Jovens e Adultos - EJA, sob o ponto de vista cognitivo,
da teoria de Piaget.
Inicia-se as noções sobre conhecimento e considerações sobre o
estagio de desenvolvimento cognitivo, seguindo para uma analise sobre
o nível de operatoriedade dos alunos da EJA.
Palavras-chave: Piaget; Ensino de Jovens e
Adultos; Nível de Operatoriedade.
- Introdução
Para Piaget (1973), “Não é o conhecimento do teorema de
Pitágoras que irá assegurar o livre exercício da inteligência
pessoal: é o fato de haver redescoberto a sua existência e a sua
demonstração”.
Primeiramente deve-se começar a discussão sobre o que é aprender,
e como se aprende, e para isso vamos usar alguns conceitos de Piaget
relativos ao processo de desenvolvimento, tentando mostrar que a
aprendizagem está ligada a esses processos.
Pode-se do inicio dizer que, segundo Ortiz (2002), não se aprende
da mesma maneira em todas as idades, pois a capacidade de construção
de novos conhecimentos é determinada pelas estruturas de pensamento
que o sujeito possui antes de tentar assimilar ou compreender o novo
objeto.
A teoria de Piaget só será útil em sala de aula se os professores
passem a questionar-se como modificar o ambiente escolar.
Assim, o objetivo da educação é formar pessoas capazes de
desenvolver um pensamento autônomo, e dentre desse conceito temos
que entender a dinâmica da sala de EJA, para construção de não só
estudos científicos, mas também relações interpessoais.
Então, a primeira tarefa da educação consiste em garantir a todo
indivíduo a oportunidade de construir os instrumentos psicológicos
que lhe permitam raciocinar com lógica, conquistar a autonomia e
tornar-se um cidadão capaz de contribuir para as transformações
sociais e culturais da sociedade, dentre outras.
- Noções sobre conhecimento
Estudando os processos pelos quais a criança adquire o
conhecimento, Piaget chega às relações entre desenvolvimento e
aprendizagem, que são processos diferentes, ou seja, o
desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo, ligado ao
desenvolvimento do sistema nervoso e das funções mentais,
terminando somente na vida adulta. Já a aprendizagem é diferente,
pois ela é provocada por situações, além de contrária ao que é
espontâneo, é um processo limitado a um problema simples ou uma
estrutura simples.
Assim, o desenvolvimento explica que a aprendizagem é um processo
essencial e cada elemento dela ocorre como função do
desenvolvimento total, e não se chega a apreender da mesma maneira
em todas as idades, pois a capacidade de formação de conhecimentos
novos é determinada pelo estágio de desenvolvimento do sujeito.
Piaget considera que o desenvolvimento de cada pessoa passa por
várias fases, consideradas como estágios: sensório-motor,
pré-operatório, operacional concreto e operacional formal.
A passagem pelos estágios não pré-programados vai depender dos
seguintes fatores: maturação interna, ações sobre os objetos,
interação social e equilibração.
Então, dentro de uma perspectiva mais funcional de como o sujeito
atua cada estágio se caracteriza por uma maneira de abordar os
problemas e de enfrentar a realidade.
A busca pela adaptação ao meio em que vive é inerente ao sujeito,
e esta adaptação se realiza através da ação, a qual é um
elemento central da teoria, sendo responsável pela interação do
sujeito-objeto.
Considerações sobre os estagio de desenvolvimento
Segundo Piaget, cada estágio caracteriza-se por uma estrutura de
conjunto, a qual se expressa de maneira lógico-matemática e traduz
a organização subjacente das ações (Delval, 2001).
Segundo, Ortiz (2002), os estágios obedecem a uma ordem seqüencial
invariável, e o que pode sofrer alterações é a velocidade e a
duração das construções, as quais dependem da estimulação do
meio em que o sujeito está inserido. Também é preciso levar em
conta características dos estágios; a conservação das aquisições
anteriores. Uma vez construída uma estrutura, não há possibilidade
de o sujeito esquecer o conhecimento resultante dessa construção.
As estruturas mantêm-se e dão forma a todos os conteúdos, de tal
modo que o sujeito de um determinado estágio, que adquire um
conhecimento; irá adquiri-lo, apoiando-se nas estruturas que possui,
ou seja, em seus conhecimentos anteriores e em uma determinada
maneira de abordar os problemas.
Os estágios são universais, independentes da raça, cultura ou
nível socioeconômico, passando todos pela mesma seqüência na
construção das estruturas cognitivas.
Piaget definiu o desenvolvimento cognitivo como um crescimento
intelectual no qual podem distinguir-se quatro grandes estágios:
• Estágio da inteligência motora (0-2 anos) – O
comportamento é basicamente motor, a criança ainda não faz
representações, e é anterior ao aparecimento da linguagem, sendo
marcado por um extraordinário desenvolvimento da linguagem.
• Estágio do pensamento pré-operacional (2-7 anos) –
caracterizado pelo surgimento da linguagem e outras formas de
representação. O sujeito se torna apto a representar, e é uma
conquista do estágio pré-operatório. As representações pela
ordem de aparecimento são: a imitação, o jogo simbólico, o
desenho, a imagem mental e a linguagem. Nessa fase, o sujeito não
admite a existência de pontos de vista diferentes dos dele, é o
egoísmo. A superação do egocentrismo permite ao sujeito descentrar
mais e acompanhar transformações simples, o que, por sua vez,
possibilita a construção da reversibilidade.
• Estágio das operações concretas (7-11 anos) –
desenvolvimento do pensamento lógico para problemas concretos. Nesse
estágio, ele não apresenta dificuldades na solução de problemas
de conservação e tem argumentos corretos para suas respostas. Já
se torna capaz de realizar todas as operações cognitivas e, o que é
mais importante, já alcança a reversibilidade das operações
mentais. Do ponto de vista cognitivo, o desenvolvimento mais
importante, que ocorre no estágio das operações concretas, é a
construção das operações lógicas,
• Estágio das operações formais (11-15 anos) –
desenvolvimento do raciocínio lógico para todas as classes de
problemas. Esse estágio é caracterizado pelo raciocínio científico
e pela construção de hipóteses as quais refletem uma compreensão
altamente desenvolvida da causalidade. O sujeito pode operar com a
lógica de um argumento, independente do conteúdo.
- Diagnóstico da EJA
Segundo Ortiz (2002), todos os adultos, quando se integram a
programas de educação básica, têm uma idéia do que seja a
escola, apesar de um passado e uma experiência desastrosa. Lembra-se
da escola com carinho e sentem, com pesar, o fato de terem-na
abandonado, ou de nunca terem tido a chance de freqüentá-la.
Não se pode refletir sobre a Educação de Jovens e Adultos sem
relacioná-la diretamente à forma desigual como a sociedade está
estruturada.
Os cursos de alfabetização de adultos existem, exatamente, pela
falta objetiva de oportunidades educacionais que garantam às
crianças o acesso à escola, bem como à sua permanência, haja
vista os altos índices de evasão escolar.
As dificuldades sociais, vivenciadas por parte dos alunos,
afastam-nos da escola, pois não a encontram voltada a sua realidade
e; sem expectativa de progressão social, intelectual e cultural,
abandonam os estudos.
As recriminações, a exclusão, os ataques à auto-estima e o
desrespeito vivido dentro do sistema escolar também são freqüentes
responsáveis por esse fracasso.
Aqueles, que já passaram pela escola, são portadores de uma
história escolar marcada pelo fracasso, por incompetência da escola
em não saber atender à necessidade do aluno.
Sendo assim, a falta de conhecimento do professor da EJA de como o
sujeito constrói seu conhecimento também dificulta o conhecer dos
seus alunos e continua julgando o que desconhece.
- Desafios da EJA
A escola precisa trazer para dentro dela as situações próprias do
contexto cultural, mas, trazer, simplesmente, situações de vida
para a escola não garante a qualidade da educação. Logo, o ensino
deve adaptar-se às condições do progresso científico e preparar
inovações, tudo aquilo que é necessário à construção de uma
consciência crítica e moral.
A escola tem trabalhado, de forma básica, na transmissão de
conteúdos que, se forem tratados, simplesmente, como informações,
não levarão o aluno a operar sobre eles para chegar a uma
compreensão. Poderemos, então, dizer que a situação escolar, em
especial, se tratando de educação de adultos, é uma educação
tradicional.
Sob ponto de vista do desenvolvimento, a escola está despreparada
teórica e praticamente para enfrentar o problema da educação para
todos.
Há, nesse momento de busca, a necessidade de se olhar o presente
para se definir o futuro.
Todos sofrem a crise de paradigmas da educação; e em geral crise
exemplificada pelo fracasso da maioria dos programas de
alfabetização.
Podemos afirmar que crise, incerteza e fragmentação também
atravessam outros campos e determinam boa parte dos discursos atuais.
Diante de tantas dificuldades, a solução está num maior
desenvolvimento do sujeito e do próprio sistema educativo.
- Contribuições de Piaget e EJA
A contribuição de Piaget pode nos levar a compreender o que
ocorre, cognitivamente, para que haja aprendizagem na sala de aula,
pois a compreensão do processo de desenvolvimento, uma vez que este
não ocorre por simples maturação, mas devido às trocas do
indivíduo com o meio que o cerca.
O cotidiano e a vida familiar colocam, muitas vezes, com mais
propriedade que a própria escola, situações de desafio que exigem
do sujeito um rearranjo de suas estruturas cognitivas, propondo
condições, às vezes excelentes, para a produção de abstrações.
Assim, é essencial conhecer-se a vida de uma população, que
exigem o uso de um pensamento dedutivo, o aproveitamento dessas
situações, no espaço escolar, contribuirá para o desenvolvimento
de um pensamento operatório nos alunos, criando situações que
privilegiem processos de abstração reflexionante e, em especial, de
abstração refletida.
Embora entendendo que a solução para a realidade do aluno esteja
condicionada a questões que ultrapassam o muro da escola, é
necessário que a prática pedagógica contribua para que o aluno
encontre oportunidade de construir o raciocínio crítico, pois a
falta de um projeto pedagógico adequado à realidade da EJA vem
colaborar com a evasão e com a falta de compromisso da escola na
construção do saber dos alunos.
Assim, passando à teoria de Piaget, sabemos que ele considerou o
desenvolvimento cognitivo como tendo três componentes.
Conteúdo é o que se conhece, refere-se aos
comportamentos observáveis que refletem a atividade intelectual.
Pela sua natureza, o conteúdo da inteligência varia,
consideravelmente, de idade para idade e de sujeito para sujeito.
Função refere-se àquelas características da
atividade intelectual – assimilação e acomodação – que são
estáveis e contínua no decorrer do desenvolvimento cognitivo.
Estrutura refere-se às propriedades organizacionais
inferidas que explicam a ocorrência de determinados comportamentos.
Portanto, quando, na escola, pretende-se favorecer uma aprendizagem
com compreensão, que vai muito além da repetição de respostas
certas e que é fruto de uma atividade mental construída pelo aluno,
em que ele incorpora às suas estruturas cognitivas os significados
relativos ao novo conteúdo, é necessário levar em conta as
vivências e conhecimentos do aluno de EJA.
Para aprender qualquer conteúdo escolar, o aluno da EJA precisa
atribuir um sentido e construir significados para tal conteúdo. Para
que isso ocorra, o aluno não pode partir do nada, deve relacionar o
novo conteúdo com as idéias, conceitos, informações e
conhecimentos já construídos no decorrer de sua vida. A
possibilidade de estabelecer relações entre um conteúdo novo e os
conhecimentos prévios que o aluno já possui é que facilitará a
sua compreensão e desencadeará uma aprendizagem significativa.
Para que uma proposta de trabalho para a EJA tenha significado,
faz-se necessária uma investigação sobre em que nível operatório
os alunos estão, para que, a partir desses resultados, tal proposta
possa contribuir para a formação autônoma do sujeito.
Então, a questão é:
- Qual o nível de operatoriedade dos alunos da Educação de
Jovens e Adultos?
Tendo em vista que o nosso sistema educacional enfrenta uma crise, de
proporções cada vez maiores, parece-nos necessário salientar que a
evasão escolar aumenta a demanda do Ensino de Jovens e Adultos.
Considerando-se que a educação deve favorecer a aprendizagem
efetiva do aluno, torna-se necessário conhecer o nível de
operatoriedade do aluno da EJA, a fim de que ele encontre, na escola,
um ambiente propício para tornar-se um cidadão consciente.
Através do conhecimento do nível de operatoriedade, pode-se
construir uma proposta pedagógica que possibilite aos alunos
aprenderem a aprender, para desenvolverem suas capacidades e
habilidades, quando eles próprios possam, a partir de suas
vivências, reinventar e reconstruir o que já sabem.
Sendo assim, pesquisas sobre o nível operatório dos alunos da EJA,
os quais os resultados encontrados demonstram que o maior número de
sujeitos apresenta níveis mais elementares de operatoriedade.
Os sujeitos apresentam um pensamento de nível operatório elementar
das operações concretas, ligado ao contexto da experiência
pessoal.
Com essa dificuldade, pode-se concluir que o fracasso escolar não
fica determinado apenas no aspecto do desenvolvimento social, mas a
escola ainda tem um conjunto de questões e problemas a ser resolvido
para poder cumprir com a sua obrigação na formação do Homem, que
vai além dessa análise aqui apresentada.
- Mudanças na pratica pedagógica da EJA
Entre as mudanças, que Ortiz (2002), sugere na prática pedagógica
dos professores da EJA, destaco:
• a recuperação, por parte dos professores, do controle do
processo educativo, que será alcançado mediante a colaboração e
participação de todos, bem como da participação de projetos na
formação continuada;
• a colocação dos alunos da EJA perante todo tipo de
conhecimento, em contato com o saber, a experiência e a realidade;
• a escola deve estar inter-relacionada com toda a comunidade para
não criar exclusão e garantir a todos o direito à educação, à
liberdade e à felicidade;
• a necessidade de a escola da EJA transformar-se em uma
instituição que possua um sistema educativo democrático.
Todavia, os professores precisam de clareza para desenvolver uma
prática educativa, que venha a possibilitar a aprendizagem do aluno,
não se esquecendo de que cada pessoa pensa de maneira diferente,
usando métodos diferentes, estratégias e instrumentos conforme a
atividade que esteja realizando; não esquecendo que o caminho da
aprendizagem não tem uma única forma, que deve ser um processo
aberto, já que há limites e possibilidades de construção do
conhecimento de indivíduo para indivíduo.
Nesse sentido, diferenças individuais e diferenças culturais se
fundem, formando a heterogeneidade a partir dos indivíduos em
diferentes atividades, ao longo do processo de aprendizagem.
Finalmente, vemos que a contribuição da teoria piagetiana não se
restringe somente à ação pedagógica, mas também pode
constituir-se num referencial à análise de orientações de
diretrizes de Política Educacional para a Educação de Jovens e
Adulto.
BIBLIOGRAFIA
- DELVAL, Juan. Aprender na Vida e Aprender na Escola. Porto Alegre. Editora Artmed. 2001.
- Ortiz, Maria Fernanda Alves. Educação de Jovens e Adultos: Um estudo de nível operatório dos alunos. UNICAMP: Campinas, 2002. Dissertação de Mestrado.
- PIAGET, Jean. Para onde vai a Educação? Rio de Janeiro. Livraria José Olympio Editora. 1973.
Nenhum comentário:
Postar um comentário